23 outubro 2011

Meus olhos estão degringolando, por Valmir Santos

foto Lidia Ueta

A Súbita Companhia de Teatro ergue uma cena francamente verborrágica sobre o indizível. A palavra é veemente desde o título: Meus Olhos Estão Degringolando, adaptação da diretora Maíra Lour para texto não informado do romancista americano Jonathan Safren Foer. O verbo também está no coração da vida incomum de um casal sob o mesmo teto, partilhando a mesma máquina de escrever e separados por muros, corredores, demarcações territoriais de “algo” e “nada” equilibrados segundo as convenções desse homem e dessa mulher, por Otavio Linhares e Janaina Matter.
Os signos constitutivos da linguagem os fazem suportar um ao outro. Seria, grosso modo, a evolução de uma história de amor, sua ascensão e queda. A compressão temporal e espacial é feita de falas curtas, numa espiral de exasperação dele, escritor estancado, diante do talento dela ao jorrar e apropriar-se do mesmo ofício. A cena trata dessa perpendicular de duas pessoas desmagnetizadas aos poucos, ampliando as distâncias.
No espaço austero da encenação, linhas e embaraçamentos geográficos traduzem as inquietações em movimentos, gestos e ações dos atores, fluídos e interrompidos. À tessitura da palavra soma-se o vocabulário da luz (sombras narradoras de situações íntimas, por Daniele Régis) e da música como exceção ao silêncio dominante (o acordeão irrompendo com a dolência de Edith de Camargo). Toda separação precipita sua sinfonia.



http://mostracenabreve.blogspot.com/2011/10/consonancia-e-separacao.html

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