Depois
de optar pelo teatro físico como forma e pela adaptação de obras
literárias como conteúdo, a Súbita Cia. de Teatro agora entra na arena
do metateatro. Amores Difíceis, que estreia hoje no Teatro Novelas
Curitibanas, tem um formato em que o espectador é capaz de questionar se
está vendo algo planejado ou espontâneo, especialmente quando os
atores-personagens dizem uns aos outros coisas como: “Dá para você
repetir essa cena? Quero entender melhor”.
VÍDEO: Assista ao teaser da peça "Amores difíceis"
Essa guinada surgiu por acaso ao longo do processo criativo,
que continua tendo por base a inspiração literária. Neste trabalho, o
grupo parte do italiano Italo Calvino (com seu conto “A Aventura de um
Esposo e de uma Esposa”), somado a uma subtrama da peça A Gaivota, de
Anton Tchékhov e à peça Bodas de Sangue, de Federico García Lorca.
De todos os textos, foram extraídas cenas de amor – sim, é mais uma
peça sobre o amor, conforme avisa uma das atrizes no início do
espetáculo.
“Fomos atrás de muitas referências sobre esse tema. A literatura nos
levou a outras peças e filmes”, conta a diretora, Maira Lour.
De Tchékhov, foi extraído o frio relacionamento entre Masha e
Medvedenko, personagens do drama que estão em “terceiro plano” na obra
russa, conforme define Maira.
De Lorca, a “passividade e passionalidade” do casal em fuga ao som de
flamenco. “Essa é uma das referências do amor, especialmente em
novelas”, diz Maira, referindo-se ao dilaceramento da paixão.
De Calvino veio a temática da difícil comunicação no dia a dia. Do
próprio grupo, histórias pessoais, universalizadas na tentativa de levar
a plateia à identificação.
Alternando-se, os quatro atores (Alexandre Zampier, Helena Portela,
Janaina Matter e Pablito Kucarz) simulam cenas que teriam a função de
entender o amor e de permitir que eles sintam e experimentem “coisas que
estão nos livros”. Uma delas, bem afinada, simula a morte de vários
personagens trágicos de Shakespeare.
Entranhas
Foi durante os ensaios, iniciados em janeiro, que o grupo caminhou
rumo à metalinguagem – o uso de referências ao próprio teatro e uma
comunicação humorística que olha nos olhos do público têm sido
ferramentas frequentes de companhias por todo o país.
Para o público, esse “rompimento da quarta parede” do teatro traz uma
distensão, permite jogar junto com a peça. Para os atores,
aparentemente é muito divertido.
Anteriormente, a Súbita havia destrinchado Milan Kundera e Jonathan
Safran Foer, que basearam respectivamente as peças Vertigem e Porque Não
Estou Onde Você Está – essa última é inclusive citada em Amores
Difíceis.