18 abril 2013

Caderno G - 18/04/2013

Súbita fala de amor e faz metateatro
Publicado em 18/04/2013 | Helena Carnieri

 Victor Hugo/Divulgação
 Victor Hugo/Divulgação / Helena e Alexandre fazem um dos vários casais da peça    
 Helena e Alexandre fazem um dos vários casais da peça

Depois de optar pelo teatro físico como forma e pela adaptação de obras literárias como conteúdo, a Súbita Cia. de Teatro agora entra na arena do metateatro. Amores Difíceis, que estreia hoje no Teatro Novelas Curitibanas, tem um formato em que o espectador é capaz de questionar se está vendo algo planejado ou espontâneo, especialmente quando os atores-personagens dizem uns aos outros coisas como: “Dá para você repetir essa cena? Quero entender melhor”.
VÍDEO: Assista ao teaser da peça "Amores difíceis"
Amores Difíceis
Teatro Novelas Curitibanas (R. Pres. Carlos Cavalcanti, 1.222 – São Francisco), (41) 3321-3358. Estreia hoje. Apresentações de quinta-feira a domingo, às 20 horas, até 19 de maio. Entrada franca. Classificação indicativa: 18 anos.
Essa guinada surgiu por acaso ao longo do processo criativo, que continua tendo por base a inspiração literária. Neste trabalho, o grupo parte do italiano Italo Calvino (com seu conto “A Aventura de um Esposo e de uma Esposa”), somado a uma subtrama da peça A Gaivota, de Anton Tchékhov e à peça Bodas de Sangue, de Federico García Lorca.
De todos os textos, foram extraídas cenas de amor – sim, é mais uma peça sobre o amor, conforme avisa uma das atrizes no início do espetáculo.
“Fomos atrás de muitas referências sobre esse tema. A literatura nos levou a outras peças e filmes”, conta a diretora, Maira Lour.
De Tchékhov, foi extraído o frio relacionamento entre Masha e Medvedenko, personagens do drama que estão em “terceiro plano” na obra russa, conforme define Maira.
De Lorca, a “passividade e passionalidade” do casal em fuga ao som de flamenco. “Essa é uma das referências do amor, especialmente em novelas”, diz Maira, referindo-se ao dilaceramento da paixão.
De Calvino veio a temática da difícil comunicação no dia a dia. Do próprio grupo, histórias pessoais, universalizadas na tentativa de levar a plateia à identificação.
Alternando-se, os quatro atores (Alexandre Zampier, Helena Portela, Janaina Matter e Pablito Kucarz) simulam cenas que teriam a função de entender o amor e de permitir que eles sintam e experimentem “coisas que estão nos livros”. Uma delas, bem afinada, simula a morte de vários personagens trágicos de Shakespeare.

Entranhas
Foi durante os ensaios, iniciados em janeiro, que o grupo caminhou rumo à metalinguagem – o uso de referências ao próprio teatro e uma comunicação humorística que olha nos olhos do público têm sido ferramentas frequentes de companhias por todo o país.
Para o público, esse “rompimento da quarta parede” do teatro traz uma distensão, permite jogar junto com a peça. Para os atores, aparentemente é muito divertido.
Anteriormente, a Súbita havia destrinchado Milan Kundera e Jonathan Safran Foer, que basearam respectivamente as peças Vertigem e Porque Não Estou Onde Você Está – essa última é inclusive citada em Amores Difíceis.
Estreia
Amores Difíceis

Teatro Novelas Curitibanas (R. Pres. Carlos Cavalcanti, 1.222 – São Francisco), (41) 3321-3358. Estreia hoje. Apresentações de quinta-feira a domingo, às 20 horas, até 19 de maio. Entrada franca. Classificação indicativa: 18 anos.


Um comentário:

Anônimo disse...

No Teatro Novelas Curitibanas, pude assistir a uma peça que acabou por se constituir como um dos momentos altos daquilo a que, culturalmente, me foi dado ver aqui em Curitiba.

A peça chama-se "Amores Difíceis" e é levada a cena pela "Súbita - Companhia de Teatro". Apesar de a sinopse da peça fazer alusão ao fato de o espetáculo homenagear Anton Tchekov, Federico Garcia Lorca, Shakespeare, Ítalo Calvino, Sarah Kane, Jacques Prèvert ou Nina Simone, parti para o seu visionamento com todas as reticências, e mais algumas.

O tema abordado a essa cautela exigia, um pouco como ler poesia, depois de Byron ou Shelley, que tenha como mote "a lua".


Agradabilíssima surpresa! Um trabalho de direção muito sério e honesto, onde, como em todo o bom teatro, o ator surge como o principal suporte cenográfico. Uma boa demarcação do espaço e tempos cênicos, centrada no despojamento ornamental e onde a histrionica pirotecnia "castafiorense" (tão em voga nos atuais fazedores de teatro) dava lugar a uma sóbria e bem demarcada dicção, favorecendo em muito a recepção, por parte do público, do rico e bem estruturado texto.

Dizer que esse texto avançava com alguma perspectiva nova em relação ao tema proposto seria incorrer numa afetação piedosa, piedade essa que o texto não carece, por não ser sequer esse, creio, o propósito último a que se arrogava. Texto honesto dito de uma forma honesta, "tout court"!

Quanto do tão propalado teatro pós-moderno poderá reclamar para si a autoridade destes epítetos? Mais fácil permanecerem pela rama dos apodos contextuais!


Em suma: uma bela revisitação de um tema difícil, de tão gasto e batido, numa bem conseguida releitura, que nunca se escusando aos clichês e premissas que, desde tempos imemoriais, guiam as sendas da sua retórica, soube questionar o caminho trilhado. Ou, por outras palavras: "O orgulho não salva, mas colecciona mortos." Que o faça, pelo menos, com um pouco mais de critério e parcimônia é a vontade com que cada um de nós sai destes "Amores Difíceis".

Os meus agradecimentos,
Camila Vardarac